Já havia indícios de que o futuro das versões desportivas de familiares compactos – a que genericamente se chama GTI, desde que a VW inventou este nicho de mercado com o primeiro Golf GTI de 1976 – estava em risco. Notícias de que o VW Golf R teve que reduzir a potência para baixar as emissões, ou de que o Peugeot 308 GTI esteve umas semanas fora de produção, até lhe serem feitas alterações similares, não auguravam o melhor dos futuros para os GTI.

É oficial: os GTI vão mudar

Agora tive informações mais concretas. Foi durante o recente salão de Paris, onde estive numa mesa redonda restrita a meia dúzia de jornalistas internacionais, promovida por Jean-Philippe Imparato, o CEO da Peugeot. O objetivo do encontro era falar da transição da marca para a eletrificação e muitos dados interessantes foram anunciados a este respeito, aos quais voltarei em breve. Mas o que me despertou a atenção foi a resposta de Imparato a uma pergunta de um colega jornalista do Reino Unido, sobre o futuro dos GTI. Poderia parecer uma questão deslocada, quando se estava a falar de outro assunto, mas Imparato conseguiu enquadrar o assunto, sabendo que o jornalista que lhe fazia a pergunta vinha do mercado que mais consome versões GTI, de todas as marcas, precisamente o Reino Unido.

“Não vamos gastar dinheiro em versões desportivas, que emitem mais de 200 g/km de CO2, enquanto não tivermos tudo o resto tratado”, disse Imparato. Quando se refere a “tudo o resto” está a falar precisamente da transição para a eletrificação da gama Peugeot, a única solução possível para atingir as metas de emissões de 95 g/km de CO2, que vão ser impostas já em 2021 na Europa.

A Peugeot não vai precisar de pagar nenhuma das multas que estão previstas para os construtores que não atingirem a meta de emissões

Como tinha anunciado no dia anterior o seu chefe Carlos Tavares, Imparato repetiu que a Peugeot vai estar pronta em 2021 e que não vai precisar de pagar nenhuma das multas que estão previstas para os construtores que não atingirem esta meta de emissões poluentes. Os 95 g/km de CO2 é um valor médio da gama, ou seja, são a média das emissões, segundo a norma WLTP, de todos os diferentes modelos e versões que um construtor tenha à venda em 2021. Para conseguir chegar aqui, é fundamental que alguns modelos ou versões não emitam nada (os elétricos) ou emitam muito pouco (os híbridos) para dar tempo aos restantes modelos da gama (combustão) reduzir as suas próprias emissões.

GTI: quem os quer?…

Daqui a pensar que os GTI têm os dias contados, vai um passo. Porque têm piores emissões e porque vendem cada vez menos. A época de ouro dos GTI já passou há muito tempo. De vez em quando, vemos algum reacender da velha chama, quando um dado construtor decide lançar um novo GTI, mas geralmente o entusiasmo do mercado não dura muito e está localizado em poucos mercados.

Por um lado, hoje, os compradores estão mais interessados noutras coisas, como os SUV de todo o tamanho e feitio, ou os veículos eletrificados. Por outro lado, as restrições à circulação são cada vez mais apertadas, reduzindo as oportunidades de usar a performance de um GTI, sem estar a arriscar a carta de condução ou a fazer uma condução socialmente condenável.
Por fim, a existência dos GTI há muito que se justificava apenas pelo efeito de locomotiva que tinham para o resto da gama, sendo versões que dão pouco ou nenhum lucro aos construtores que ainda os oferecem. Mas como este efeito é cada vez menor, não parece lógico que os GTI tenham grande futuro. Pelo menos da maneira que hoje os conhecemos.

GTI: mas há uma saída

Há uma hipótese dos GTI não morrerem, que é a de aderirem também eles à eletrificação, numa primeira fase através de sistemas híbridos orientados para a performance, por exemplo com um botão para dar um “boost” elétrico, que seria uma bela ferramenta de marketing. Ou transformarem-se diretamente em veículos puramente elétricos. Como disse Imparato: “todos sabemos o nível de performance de que os elétricos são capazes…”
No caso da Peugeot, há ainda mais um indício interessante, que é a retirada da sua equipa do campeonato mundial de Rallycross WRX, onde inscrevia os 208 WRX, um deles guiado por Sébastien Loeb.

O anúncio foi feito depois de a FIA, a federação internacional do automóvel, ter adiado por um ano a transição do WRX para as motorizações elétricas, que estava previsto já para 2020, mas só irá acontecer em 2021. A Peugeot não escondeu a sua desilusão por esta decisão, certamente porque prepara o lançamento do novo 208, já em 2019 e talvez o 208 WRX elétrico fosse a ferramenta de marketing perfeita para ajudar a promover um futuro 208 GTI elétrico.

Conclusão

Esta seria uma versão relativamente fácil de fazer, pois o novo 208 vai partilhar a nova plataforma CMP com o Citroën C3 Aircross, que vai ter uma versão elétrica, já confirmada, feita com base na variante elétrica desta plataforma, e-CMP.
Se projetos deste tipo forem rentáveis, talvez os GTI consigam fazer um “flick-flack” e juntar a imagem da performance à da eficiência energética e assim recuperar o interesse de alguns compradores. Mas nada será como dantes, nos tempos em que o 205 GTI dominava os sonhos de uma geração.