19/10/2018 Os automóveis elétricos só têm poluição zero quando andam na rua. Mas a história não acaba aí… há outros fatores que os tornam mais poluentes para o planeta que os automóveis a gasolina ou Diesel.
O fenómeno dos automóveis elétricos ainda tem mais de mediático do que real, pois em 2017, do total de veículos particulares vendidos no mundo, apenas 1% foram elétricos. Mas isto vai mudar, à força da vontade política, que tem a sua própria agenda. Só para ficar com uma ideia, hoje, a média de emissões de CO2 dos automóveis novos vendidos na Europa anda nos 111 g/km. Mas os regulamentos aprovados para os próximos anos exigem que, em 2020, esse valor baixe para 95 g/km e em 2030 terá que baixar mais 30%. Isto acaba por obrigar os construtores a entrar nos modelos híbridos e elétricos, pois a tecnologia e os custos de desenvolver ainda mais os motores a combustão, para cumprir estas normas, não são comportáveis. E, no final, os motores térmicos ficariam a andar menos. Há projeções a dizer que, seguindo este caminho, em 2050 as vendas de automóveis elétricos têm que chegar aos 50% do total das vendas. O que não parece nada fácil.

Ar puro na cidade

Ter uma cidade limpa de emissões poluentes é o sonho de qualquer político, desde logo porque faz descer os gastos com a saúde pública. Se o CO2 tem como grande consequência o efeito de estufa, já as emissões localizadas de óxidos de azoto e de monóxido de carbono provocam ou agravam problemas cardio-vasculares, respiratórios e podem ter efeito cancerígeno. Claro que todos queremos viver numa cidade em que estes perigos desapareçam. Mas há um preço a pagar, longe da vista, longe do coração mas também pago em poluição.
Enquanto um carro com motor de combustão, durante a sua vida, emite a maior parte da poluição quando está a circular, no caso de um veículo elétrico isso acontece durante a fase de fabricação das baterias.

Cada kWh de capacidade de uma bateria obriga, durante a sua fabricação, ao consumo de electricidade correspondente à emissão de 150 a 200 kg de CO2

As baterias são fabricadas maioritariamente na China, Coreia do Sul e Japão e o seu método de produção obriga a gastar muita energia elétrica. Segundo estimativas divulgadas por entidades independentes, cada kWh de capacidade de uma bateria obriga, durante a sua fabricação, ao consumo de electricidade correspondente à emissão de 150 a 200 kg de CO2. Basta multiplicar este valor pela capacidade das baterias dos automóveis elétricos à venda no mercado, para perceber a razão por que 40% de todas as emissões de CO2 de um veículo elétrico são produzidas durante a fabricação da bateria.
Comparando um carro utilitário elétrico com o seu homólogo a gasolina, em França, só ao fim de 50 000 km, o elétrico atinge o balanço zero de emissões de CO2. Antes disso, o automóvel elétrico contribuiu mais para a poluição. Mas quando o automóvel utilitário elétrico chegar aos 150 000 km, então sim, emitiu três vezes menos CO2, que o seu homólogo a gasolina.

Cada país é um caso

Na verdade, estas contas, dependem em muito da capacidade da bateria, pois para modelos elétricos com baterias maiores, as contas são-lhes ainda mais desfavoráveis, sendo precisos mais quilómetros para “amortizar” a pegada de CO2 deixada durante a produção da bateria e menos benefício, mesmo após alta quilometragem.
Aqui entra outro fator fundamental, que é a origem da energia elétrica, ou seja, como foi produzida. É muito interessante ver a média de emissões de CO2 por país, na produção de 1 kWh de energia elétrica. Em França, onde as centrais nucleares são a principal origem, as emissões ficam-se pelos 80 g CO2/kWh. Na Noruega, onde as barragens são a principal origem, as emissões da produção ficam-se pelos 32 g CO2/kWh. Mas estes são casos excecionais, sendo que a França tem outro problema, que são os resíduos radioativos. Passando para os países onde as centrais de carvão são a principal origem, temos a Alemanha com 455 g CO2/kWh e a China com 756 g CO2/kWh.
Para dar um exemplo: se a electricidade vier toda de centrais de carvão, um automóvel elétrico alimentado desta fonte, “emite” mais do dobro do CO2 que um Diesel! Na Polónia (691 g CO2/kWh), um veículo elétrico “emite” tanto CO2 como um híbrido a gasolina e quase tanto como um Diesel.
Mas a poluição não é só CO2. Nas centrais térmicas, as emissões de NO2 e de SO2, são 25% superiores às que saem do escape de um moderno motor Diesel, com os seus catalizadores a funcionar na perfeição. É que as chaminés das centrais não têm catalizadores…

Conclusão

Os automóveis elétricos resolvem o problema da poluição nas cidades, isso é óbvio. Mas, por enquanto, não resolvem o problema da poluição no planeta, até o agravam. E estamos só a falar de CO2. Porque ainda restam outras questões como a poluição local das águas, associada à extração dos minérios necessários para as baterias, como o Lítio e o Níquel, ou a questão da reciclagem das baterias, que ainda só é feita a 50%. Ou ainda a dependência estratégica dos países detentores destas matérias primas, na verdade da China, que detém 95% das reservas de Lítio. Corremos o risco de querer sair da dependência dos produtores de petróleo, para nos entregarmos aos produtores de Lítio.

Francisco Mota