Para quem se queixava que os Audi eram todos iguais, aqui está um diferente. Não só tem a grelha mais ameaçadora que a marca já fez, como ainda leva a Audi para a “guerra” do X6 e do GLE Coupé, os grandes SUV coupés que vendem, somados, umas 100 unidades por ano, em Portugal. Por ser novidade, a SIVA, o importador nacional da marca, espera que o Q8 venda, sozinho, 60 carros, no primeiro ano. Será que vai conseguir bater os rivais?

Q8, um SUV Coupé

Um grande Sports Utility Vehicle coupé é um conceito que me intriga, desde logo porque a parte de “Utility” é claramente afetada. Mas este Q8, com aquela grelha que mais parece a boca de um tubarão pronto a devorar a próxima vítima, não despreza essa parte.
Pelo nome que recebeu, o Q8 será a versão SUV do A8, mas o Q7 não era já isso mesmo?… Para não haver (muita) confusão, lá está então a silhueta mais coupé, mas não tanto como no X6 ou no GLE Coupé, porque a Audi não arrisca um tejadilho a escorregar para a traseira, evitando acabar com a altura nos lugares de trás. E fez bem, porque, a não ser que tenha dois metros de altura, um adulto não precisa de viajar com o pescoço torcido no banco de trás. A mala tem 605 litros, cabendo lá os tacos de golfe de uma família inteira.

Se nas fotos parece grande, ao vivo é enorme! Com 4,986 m de comprimento, ocupa muita estrada e obriga a medir bem o espaço à volta

Na verdade, a partilha de componentes com o Q7 é quase total, desde logo a plataforma com 83% de alumínio e o motor 50 TDI, a nova nomenclatura que os especialistas do marketing inventaram para baralhar todos os seus colegas, e nós também: significa que o motor é o 3.0 V6 Diesel de 286 cv. Está casado com uma caixa automática de oito, com patilhas no volante e tração à quatro rodas.
Se nas fotos parece grande, ao vivo é enorme! Com 4,986 m de comprimento, ocupa muita estrada e obriga a medir bem o espaço à volta, nas ruas apertadas e com carros mal estacionados. As câmaras traseira e dianteira ajudam, mas os apitos dos sensores de estacionamento são muito alarmistas. O raio de viragem não é mau, mas a visibilidade não é perfeita. Fala-se da ansiedade dos elétricos. Pois com o Q8 experimenta-se a ansiedade de dar um toque noutro carro a todo o instante.

Um luxo!

Os vidros das portas não têm aros, mas a Audi conseguiu montar vidros duplos para melhorar a insonorização: é como aqueles génios da matemática, que inventam problemas só para os resolver. Para chegar aos bancos é mesmo preciso subir, mas a posição de condução não parece tão alta como nos rivais. O condutor é mimado com um volante de pega excelente e, felizmente, sem a inútil base cortada; o painel de instrumentos é digital e configurável. Na consola há mais dois enormes monitores táteis com o toque em cada botão virtual a simular a sensação e o som de um botão físico: bem estranho.
Para onde quer que se olhe e se toque, o Q8 só tem materiais de alta qualidade, muito bem montados, mas com um desenho conservador. O típico Audi.

V6, ou o TDI no seu melhor

O motor 3.0 V6 TDI é um dos melhores da sua classe, muito suave, com som bem trabalhado e muito bem isolado. Mas a resposta a pequenos movimentos do acelerador é lenta, obrigando a carregar mais para acompanhar o trânsito. Tenho a teoria que isto é para melhorar as emissões poluentes, pois já encontrei o mesmo atraso noutros modelos do grupo que usam este motor. Mas de certeza que isso me ajudou a conseguir uma média de 10,0 l/100 km em cidade. Isso e o sistema “mild-hybrid” que usa um alternador reforçado.
Há modos de condução à escolha, dos desportivos aos ecológicos, mas o que gostei mais foi o “Auto” que se adapta bem ao tipo de condução de cada momento. A suspensão tem amortecimento adaptativo, mas só é confortável se o piso não tiver muitos buracos, de que as jantes de 21 polegadas não gostam.

O Q8 faz as curvas com muito pouca inclinação lateral, não castigando as rodas do lado de fora e inspirando imensa confiança

A caixa automática é muito suave e acerta com as passagens na altura certa, sendo a principal responsável por uma condução relaxada… havendo espaço.
Tal como todos os SUV deste tamanho, fico sempre com a impressão que foram feitos para cidades com muito espaço, como as americanas e não para as antigas cidades europeias, onde tudo é mais apertado. Mas mudei de opinião quando levei o Q8 para uma estrada secundária, com muitas curvas e vi como ele se comporta. Com bom piso, vale a pena passar para o modo “dynamic” e desligar o ESP. O Q8 faz as curvas com muito pouca inclinação lateral, não castigando as rodas do lado de fora e inspirando imensa confiança, mesmo quando se sobe a velocidades pouco recomendadas para um SUV.

Jogar tudo na eficiência

A eficácia da suspensão impressiona pela precisão do eixo dianteiro, mesmo se a direção não é formada em comunicação. A atitude neutra, “sobre carris” está perfeitamente de acordo com os valores da Audi e dos “quattro”. Parte do truque está na direção às rodas traseiras – até aos 60 km/h viram no sentido oposto às da frente e acima, no mesmo sentido.
Exagerando muito, acaba por ser a frente a escorregar um pouco, mas se houver espaço e (melhor ainda) se o piso for escorregadio, até é possível manter a aceleração e deixar a transmissão passar mais potência para o eixo traseiro, o que cancela a subviragem e até faz o Q8 deslizar uns graus de traseira. Os travões resistiram a uma estrada com muitas travagens fortes sem se queixarem e os pneus não se desfizeram, o que prova a boa distribuição dos esforços pelas quatro rodas.

Conclusão

Na verdade, não devia ter ficado espantado com a eficiência do Q8, pois partilha a mesma base com modelos como o Bentayga e o Cayenne. O grupo VW sabe diferenciar bem o temperamento dos seus gémeos falsos, pois um Audi nunca poderia ser tão confortável como um Bentley, nem tão ágil como um Porsche. Tem o seu próprio posicionamento, bem alinhado com a história da Audi desde o primeiro “quattro”. Se vale os 15 000 euros que custa a mais que um Q7 é uma daquelas questões que só quem não tem os 110 000 euros que custa se vai preocupar.
Potência: 286 cv
Preço: 110 000 euros
Veredicto: 4 (0 a 5)

 

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